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domingo, abril 10, 2011

Após austeridade fiscal, Dilma deve dar cara 'social' a governo


O cientista político Rogério Schmitt diz que primeiros dem dias são de lua-de-mel com a opinião pública. Foto: Ferando Borges/Terra

O cientista político Rogério Schmitd diz que primeiros 100 dias são de lua-de-mel com a opinião pública
Foto: Ferando Borges/Terra

Vagner Magalhães
Direto de São Paulo

O cientista político Rogério Schmitt, da Escola de Sociologia Política de São Paulo, afirma que os primeiros 100 dias de um gestor público são um período de lua de mel, com uma grande dose de boa vontade da opinião pública. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff (PT) passou bem pelo período, em que tem procurado mostrar uma postura de austeridade fiscal, e daqui por diante deve procurar dar uma cara "social" ao seu governo. Em sua opinião, ela procura consolidar uma imagem de gestora, de executiva, e na política externa adota a linha tradicional pré-Lula: pró-ocidente. Ele acredita que, em relação aos países latino-americanos, a relação será parecida com a de seu antecessor. Leia os principais trechos da entrevista:

» Veja fotos ampliadas dos 100 dias de Dilma Rousseff

Como o senhor avalia os primeiros 100 dias do governo Dilma?
Eu começaria dizendo que, em geral, esses primeiros meses de um governo, de qualquer governo, são um período de lua-de-mel, ou seja, o governo acabou de ser eleito, entra com uma confiança grande, uma popularidade elevada e então existe sempre uma boa vontade, seja no nível federal, nos Estados ou municípios. A última pesquisa Datafolha mostra que, se por um lado ela não manteve a mesma popularidade que o Lula tinha, com 80% de aprovação, ela está começando em um patamar até um pouco superior de popularidade que o próprio Lula e outros presidentes anteriores começaram. Eu acho que isso confirma ser um período de boa vontade, a priori, para novos governantes. Ainda não deu tempo, por ser um governo que ainda está completando 100 dias, de se ter uma avaliação mais consolidada. Não necessariamente o modo pelo qual um governo começa é um sinal do que ele será até o final.

O senhor vê algumas sinalizações do que o novo governo será capaz?
Eu diria que o governo, em vários aspectos, está passando sinalizações muito mais positivas do que negativas. Do ponto de vista da política econômica, por exemplo, o governo está procurando transmitir uma mensagem de austeridade fiscal. De cortar gastos, de cortar orçamento, de cortar emendas parlamentares. Ou seja, primeiro ano sempre é de ajuste fiscal. Acho que nesse sentido o governo está certo. O primeiro ciclo desse governo foi mostrar para os agentes econômicos que é um governo responsável, conservador do ponto de vista da gestão pública.

Ser conservador neste momento é bom?
É positivo. O Lula fez a mesma coisa em 2003, apertou o cinto... Eu acho que agora estamos começando um segundo ciclo que é passar uma mensagem mais social. Ela herdou o Bolsa Família do governo Lula, que já virou um programa supra-partidário. Nenhum governo vai mexer nisso.

Nem a oposição?
Provavelmente a Dilma, talvez até - eu tenho lido alguma coisa sobre isso - esteja buscando ampliar alguns benefícios do Bolsa Família, aperfeiçoar um pouco mais o programa. Acho que o governo ainda vai procurar lançar programas sociais próprios. Ela quer dedicar o governo dela a erradicar a miséria. Mas ainda precisa anunciar na prática programas voltados para isso. Provavelmente vamos começar a ter anúncios nessas áreas nos próximos meses, até o meio do ano. O que eu acho também que todo governo precisa fazer.

O senhor vê diferenças claras entre Dilma e Lula?
São governos muito diferentes. O Lula era claramente um presidente carismático. Muito da popularidade dele se deve não só aos programas que seguiu, mas também ao seu carisma pessoal. Algo que a Dilma não tem. A Dilma está também procurando se associar a um governo mais administrativo, mais racional do que propriamente carismático. Ela não dá tantas entrevistas como o Lula dava. Ela não faz tantos discursos em público como o Lula fazia. Procura consolidar uma imagem de gestora, de executiva, nesse sentido mais impessoal da palavra. Provavelmente ela não vai conseguir nunca ter a mesma popularidade que o Lula teve - não sei se outro político conseguiria.

Ter uma mulher na Presidência muda de fato alguma coisa para o Brasil?
Eu acho positivo, do ponto de vista simbólico, para a democracia brasileira ter uma mulher ocupando a Presidência da República. Ter no primeiro escalão do governo vários ministérios sendo chefiados por mulheres. Acho que isso também ajuda a legitimar a ideia de democracia, das vantagens da democracia no País, algo que a gente precisa fazer.

E na política externa, o senhor vê diferenças?
Eu acho que gradativamente a Dilma parece estar procurando criar uma imagem diferente da política externa do que foi o governo Lula. A Dilma, aparentemente, pelo menos está retomando a linha tradicional de política externa brasileira que existia até 2003 e que o Lula mudou. Digamos, uma política externa mais ocidental, pró-ocidente. Com ênfase nas coisas de direitos humanos, democracia. O Lula procurou seguir uma política externa mais independente, terceiro-mundista, ou seja, aliança com outros países se forem boas do ponto de vista comercial, você pode passar por cima de qualquer critério político, ideológico etc. O Lula realmente não discriminava ninguém. O interesse comercial vai acima de tudo. Então vamos fazer negócios com as ditaduras porque dá dinheiro, é bom para a nossa balança de pagamentos. Eu acho que a Dilma agora está retornando à posição histórica da diplomacia brasileira. Ok, o interesse comercial é importante mas não pode ser o único fator decisivo, estratégico, respeitar as convenções internacionais referentes aos direitos humanos, a liberdades democráticas e gradativamente, talvez ainda de uma forma um pouco tímida, o governo dela passe a caminhar nessa direção. Especialmente no que diz respeito aos países fora da América Latina. Países do oriente médio, da Ásia. Aí é mais fácil você romper alianças formadas com países ditatoriais que estão fora da esfera de influência geopolítica brasileira.

Isso vale para a América Latina?
Na América Latina, me parece que ela não fará isso. Então essa aproximação do governo brasileiro com Hugo Chávez, com o regime cubano, acho que isso dificilmente ela irá alterar. Na América Latina o Brasil é uma potência e o interesse brasileiro é espalhar a sua influência no continente inteiro. Na América Latina, a regra geral não vai valer por questão geopolítica. Também há várias continuidades em relação ao governo anterior como a busca pelo aumento da influência brasileira nos fóruns de governança global, a busca pelo assento permanente do conselho de segurança da ONU. Acho que a Dilma vai prosseguir com a mesma determinação que o Lula prosseguiu. Acho que há continuidades e descontinuidades que variam de caso a caso.

     

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