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terça-feira, março 12, 2013

A seca entre chuvas e trovoadas

Roberto Cavalcanti

Roberto Cavalcanti

’São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração´- Tom Jobim

A presidenta Dilma Rousseff teve o privilégio, em sua visita a Paraíba, de ser recepcionada pela chuva em João Pessoa e por trovoadas – e mais água, muita água - em Campina Grande.

Desembarcando em março, depois de sucessivos cancelamentos, ela não pode testemunhar os momentos mais agudos da seca que se instalou desde o ano passado na Paraíba, dizimando rebanhos e sonhos do sertanejo de, enfim, conseguir conviver sem tantas dores e sofrimentos às estiagens prolongadas.

As águas de março que banharam Dilma e comitiva me remeteram a uma outra visita do Governo Federal que tive a oportunidade de acompanhar.

Era início da década de 80 e a Paraíba vivia, mais uma vez, o drama da seca.

Capitaneada pelo então ministro Mário Andreazza, o estafe federal sequer conseguiu desembarcar em Patos.

As chuvas eram tão torrenciais que inviabilizaram a aterrissagem da aeronave que trazia a comitiva ministerial.

O único avião que conseguiu pousar foi o meu feito que o tempo me ajudou a compreender, em toda sua extensão, o nível elevado de imprudência da tripulação.

Feito este parêntese aéreo, volto à cena da chuva para constatar que, de Andreazza a Dilma, nada mudou: as secas continuam com regularidade angustiante e o socorro federal chega sempre com um delay que praticamente inviabiliza a assistência às vítimas da estiagem.

Assim como ocorre em situação inversa – a calamidade das enchentes - o acolhimento às vítimas precisa ser feito de imediato e não seis meses depois.

No caso da seca, o socorro teria que começar a chegar no terceiro trimestre do ano – pois o convívio secular com a estiagem nos ensinou, há mais tempo do que gostaríamos, que a estiagem se instala a partir de agosto e setembro.

Em março inicia outro ciclo. É o tempo de orar para que as chuvas, que já caem, sejam regulares e tenham potencial para afugentar outro drama sertanejo: a seca verde.

Certamente que, mesmo fora de tempo, a turma do Planalto é sempre bem vinda. E não estou tentando minimizar a importância de ter a presidenta em solo paraibano.

Mas reitero em nome do sertanejo, que passou o Natal sem água para beber e iniciou 2013 sem esperança de dias melhores, que as agendas oficiais convirjam com a da seca.

E que, mais do que ações mitigadoras, este fenômeno seja atacado em toda sua plenitude, com construção de obras que resolvam de vez este problema secular.

Pois nem as águas de março conseguem lavar, da alma do sertanejo, toda essa sensação de abandono.

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