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quinta-feira, junho 21, 2012

Na Rio+20, Dilma diz que defende rios brasileiros, mas movimento questiona postura do Brasil

Discurso do governo federal de que as hidrelétricas na Amazônia geram energia limpa é combatido por movimentos sociais, cientistas, povos indígenas e Ministério Público Federal

Marcha Global da Cúpula dos Povos parou centro do Rio de Janeiro
Marcha Global da Cúpula dos Povos parou centro do Rio de Janeiro (Bruno Kelly)

Enquanto organizações ligadas a movimentos sociais protestavam contra os impactos nos rios amazônicos causados por barragens de hidrelétricas, a presidente Dilma Rousseff disse em seu discurso de abertura da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, nesta quarta-feira (20) que seu governo “defende os rios” e produz energia limpa com as hidrelétricas na Amazônia.
A lista dos deveres de casa, muitos deles já bastante questionados pelos movimentos sociais, sobretudo os do Norte, fizeram parte de seu bem elaborado discurso da plateia da Rio+20, no Rio Centro, no Rio de Janeiro.
No mesmo momento em que Dilma fazia o discurso, aproximadamente 80 mil pessoas participaram do maior protesto desde que a Rio+20 começou, na semana passada. O protesto tinha diferentes direções: Código Florestal, impactos no meio ambiente, desmatamento, desrespeito contra os povos indígenas, ausência de uma participação maior nos debates oficiais da Rio+20, entre outros.

Esforço
Dilma, aparentemente, ignorou as inúmeras críticas que já estão sendo feitas ao conteúdo do texto final, e defendeu o resultado. Disse que ele representa o consenso entre os países.
“Foi um esforço de reconciliação para avançarmos em direção ao futuro que queremos, de não retroceder nos compromissos que assumimos. Mas não basta manter as conquistas do passado, temos que evoluir. O texto traz avanços importantes, estamos introduzindo o objetivo de erradicar a pobreza como o maior objetivo, e também a igualdade racial, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a criação de um fórum de alto nível para acompanhar a implementação das ações decididas aqui", declarou.

Futuro
Pela manhã, a manifestação dos representantes dos grupos majoritários formados pela ONU, nos quais participaram representantes da sociedade civil de todo o mundo, já haviam manifestado oposição ao resultado do documento.
Os representantes de cada grupo – entre eles mulheres, povos indígenas, terceiro setor e juventude - criticaram o "retrocesso" apresentado no texto.
O descrédito foi exposto de forma explícita nos discursos dos representantes de cada grupo. "Este não é o futuro que queremos. Não é disto que estamos falando. As vozes dos herdeiros do futuro precisam ser ouvidas", disse a representante da juventude.
A representante das mulheres criticou a retirada da expressão "direitos reprodutivos" do conteúdo do documento. A exclusão ocorreu devido à pressão de representantes de países extremamente religiosos e pelo Vaticano que, mesmo sem voz, participou como ouvinte.
"Há muitos compromissos fortes e ousados pelos quais as mulheres vêm lutando. Pena que o texto aqui produzido seja tímido. Não há compromissos quanto a nossos direitos reprodutivos. Não há ação para proteger nossas vidas. Nada relacionado a mulheres em posição de liderança. O texto não nos dá os meios necessários para lidar com os desafios dos nossos tempos", disse a representante das mulheres, uma egípcia considera uma liderança em seu país.
A representação do terceiro seto foi mais dura. Pediu a remoção da participação da sociedade civil do documento final caso ela permaneça com o conteúdo atual. "Não concordamos como ficou. Será lamentável que os senhores venham aqui simplesmente assinar um documento", disse o representante, referindo-se aos chefes de Estado presentes na plateia.

Descrédito
O documento que será analisado pelos presidentes e chefes de Estado na Rio+20 já vem sendo desacreditado há alguns dias por representantes da sociedade civil mesmo antes da sua elaboração. Especialistas afirmam que o conteúdo é vago e não deixa regras claras que procura conciliar desenvolvimento econômico com desenvolvimento sustentável e proteção do meio ambiente.
Nesta terça-feira, os representantes dos grupos majoritários (grupo criado pelas Nações Unidas para representar a sociedade civil) divulgou um documento oficial com seu posicionamento. Ele pode ser lido neste site: http://www.onu.org.br/rio20/major-groups-da-rio20-declaracao-conjunta/.

Yanomami
A presença de um grupo de 42 indígenas de Roraima que transitava nos corredores com trajes característicos do Rio Centro chamou atenção dos participantes da Rio+20 nesta quarta-feira. O grupo conseguiu fazer o credenciamento no mesmo momento que chegou ao local, mas houve uma tentativa dos seguranças de impedir sua  entrada. O incidente foi logo contornado por uma funcionária da coordenação da Rio+20.
“Eles pensavam que a gente tivesse vindo aqui para fazer barulho, agitar. Mas não. A gente quer conhecer as pessoas, saber as informações. Muitas vezes a gente sabe das coisas por outas pessoas, que nos repassam. Agora a gente quer saber por nós mesmos”, disse MárcioNicássio, presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Após circularam pelos corredores, os indígenas foram recebidos pelo grupo que representa os povos nativos dentro das discussões da conferência. O indígena do Acre Sebastião Manchinery fez a tradução durante as negociações.Manchinery  pertence a etnia do mesmo nome e mora em uma aldeia no Acre. Ele vem participando dos debates paralelos da agenda oficial da Rio+20.
Após conversa com líderes indígenas de outros país, definiu-se que os indígenas de Roraima participem de uma reunião nesta quinta-feira, mas apenas com espaço dado a alguns representantes.
“Viemos aqui para acompanhar o que os não-indígenas e o pessoal de outros países estão discutindo sobre desenvolvimento, economia verde, sustentabilidade. Queremos saber qual a proposta deles”, disse Dário Kopenawa, da etnia yanomami, um dos integrantes do grupo.  Ele disse que o grupo foi ao local para “acompanhar o que os presentes vão falar”, durante as conferências. Dário é filho de Davi Kopenawa, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil.

Três perguntas para Ailton Krenak – presidente da Rede Povos da Floresta (pode ser guardada) - tem foto dele, é o que estás vestido com aquele traje bonito, típi de índios do Acre.
Pergunta - Que resultado você espera da agenda oficial da Rio+20?
Resposta - Deveria ser um resultado que foi tirado de todas as oficinas e mobilizações que fizemos no último ano e meio. Discutimos decisão e acordos e novos apoios e instrumentos. O Instituto Brasileiro Indigena de Propriedade Intelectual (Imprap) articulou uma série de debates.

Pergunta - Essa proposta ainda será apresentada?
Resposta - A nossa ideia é levar para o documento oficial um conjunto de temas que nós acordamos. Tem gente do nosso grupo que  está inscrita.

Pergunta - Você também está descrente com o resultado?
Resposta - Tenho um otimismo crítico em relação a tudo. Mas eu não estão achando que a conferência vai gerar grandes compromissos. A nossa mobilização não deve ficar pontual na Rio+20. Vamos continuar mobilizados. As grandes corporações não querem essa reciclagem capitalista.

UOL

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