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quinta-feira, junho 30, 2011

Todos teremos um tablet

Do O Globo

Publicada em 29/06/2011 às 23h27m

 

imageUm levantamento publicado pelo Centro de Pesquisas Pew no último dia 27 de junho dá o tamanho da coisa: em maio deste ano, 12% dos americanos tinham um e-book reader. Em novembro de 2010, eram 6%. O número dobrou em seis meses. Em novembro de 2010, 5% dos americanos tinham um tablet. Em maio, 8%. Apenas um ano antes, em maio de 2010, tablets não existiam e os e-book readers formavam um mercado minúsculo.

Em geral, novas tecnologias substituem outras, como o DVD e o VHS. Os tablets são diferentes. Novos.

Não é sempre que acontece. Em geral, novas tecnologias substituem tecnologias anteriores. O DVD matou o VHS, e o Blu-ray tenta seguir o mesmo caminho. O iPod deixou para trás o walkman e seu sucessor mais desajeitado, o discman. Tínhamos a televisão, o computador, o telefone celular. Ganhamos uma quarta tela, uma tela nova que inventa um uso diferente para apetrechos digitais. Só a Apple vendeu 15 milhões de iPads no primeiro ano.

Para entender o que ocorreu, é preciso antes entender o iPad. O conceito de tablet não nasceu com a Apple. Na verdade, é bem anterior. Em 2000, a Microsoft ainda presidida por Bill Gates, tentou emplacar a ideia de tablet. Naquele ano, o leitor não tocava a tela com a mão, usava um stylus, caneta sem tinta de ponta macia. E era essencialmente um computador rodando Windows, com direito a menu Iniciar e tudo. Foi um fracasso.

Os leitores de e-books, que começaram a chegar ao mercado em meados da década passada, se baseavam num conceito diferente. A tela serviria só para texto, sem brilho, como um livro. Agradável de ler - mas só para ler, nada mais. Havia poucos livros eletrônicos, mas isso mudou quando a maior livraria virtual do planeta, a Amazon, entrou no jogo. O Kindle original, de 2007, foi badalado. Mas, ainda assim, era produto de nicho.

A Apple faz disso. Havia players de MP3 antes do iPod, mas o iPod era tão simples que decolou, e rápido. Virou monopólio porque o consumidor fez dele o padrão. Steve Jobs apresentou o iPad ao público em janeiro de 2010, e a máquina chegou às lojas em maio daquele ano. Jobs costuma impressionar nas suas apresentações de produto. No caso do iPad foi diferente. Boa parte da crítica olhou para aquele iPhone grandão, achou-o meio desajeitado, fez muxoxo. Quando o público viu o aparelho, foi diferente. O iPad fazia sentido.

A sacada da Apple: um tablet não é um computador. Não serve para produzir. Serve para consumir. Para ler, assistir, ouvir. O computador, nós colocamos sobre a mesa, sentamos na cadeira, postura atenta. Algo com o formato de uma tabuleta lembra livro. Serve para poltrona, relaxado; ou para a cama, recostado. O tablet é para ler um livro ou assistir a uma série. Consumo de notícia no computador arranca 10 minutos da vida do leitor num dia; no tablet, é mais de 30. Como no jornal ou revista de papel. É claro. Confortável, o leitor se perde no conteúdo, seja lá que conteúdo for.

É curioso que, nos EUA, a primeira reação ao iPad tenha sido a de crescer o número de venda dos e-readers. Faz sentido. Se os tablets que tocam vídeo, música e servem para leitura em cores estão na faixa dos US$ 500, os e-readers custam uma fração disso. A mesma pesquisa que aponta o incrível crescimento na compra de leitores de livros eletrônicos como o Kindle mostra que o aparelho cresceu entre hispânicos e estudantes. O tablet da Apple mostrou que havia uma maneira completamente diferente de consumir informação digital. Para quem tem menos dinheiro, os e-readers viraram opção.

Em geral, produto Apple é mais caro. Mas, nos tablets, a concorrência está enfrentando dificuldades. A turma da RIM, que faz o Blackberry, lançou seu Playbook. É igualmente caro e, pelas reações iniciais dos consumidores, não convence. Ninguém conseguiu produzir um tablet rodando o sistema Android, do Google, por muito menos do que o iPad. Mas o Android tem outro argumento: é mais aberto. Roda vários formatos de vídeo, na web é possível ver conteúdo em Flash. Por enquanto, no entanto, se o preço é o mesmo, o consumidor tem preferido o iPad. Mas este é um jogo que está apenas começando. Teremos, para sempre, uma quarta tela em nossas vidas. E ainda nem começamos a ver suas possibilidades.

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