Do O Diário Online
O Banco Central (BC) anunciou ontem o sexto corte seguido do juro básico da economia, que caiu mais uma vez 0,75 ponto. Agora, a taxa Selic está em 9% ao ano. A redução era amplamente esperada pelos analistas do mercado financeiro. Com a decisão, o Brasil deixa o primeiro lugar do ranking mundial dos juros reais, que ocupava desde janeiro de 2010. A líder agora é a Rússia.
O comunicado divulgado pelo Copom após a decisão deixa a porta aberta para que outras reduções aconteçam. A hipótese ganhou força porque o texto chama muita atenção para o fato de que a inflação atualmente tem trajetória benigna no Brasil. "Neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação", afirma o documento.
"É impressionante como o BC consegue surpreender porque deixou a porta aberta para reduzir novamente a taxa de juros ou mesmo optar por uma parada técnica", disse a economista-chefe da Corretora Icap Brasil, Inês Filipa.
Um cálculo elaborado pelo economista Jason Vieira, do Banco Cruzeiro do Sul, mostra que, com a Selic a 9%, a taxa de juro real no Brasil caiu para 3,4% ao ano, inferior à da Rússia, que hoje está em 4,2%. Juro real é o que desconta os efeitos da inflação. Nesse cálculo, Vieira desconta da Selic a inflação projetada para os próximos 12 meses.
O BC já reduziu o juro básico em 3,50 pontos porcentuais desde que iniciou o ciclo de quedas, em agosto passado. O esforço, que começou com um inesperado corte de 0,50 ponto, teve duas reduções mais fortes para tentar imprimir ritmo maior à economia ainda em 2012.
A ação faz parte de uma estratégia mais ampla do governo, que tem trabalhado para minimizar os efeitos da crise sobre o Brasil via crédito. Além disso, a presidente Dilma Rousseff decidiu que a redução de juro e do spread bancário é uma nova prioridade. Spread é a diferença entre a taxa de juro que o banco paga ao captar o dinheiro e a que cobra dos clientes nos empréstimos.
A aposta de corte de 0,75 ponto era quase uma unanimidade entre economistas. Entre 72 analistas ouvidos pela Agência Estado, apenas dois não previam esse cenário e esperavam redução de 0,50 ponto. Tanta certeza nasceu após a ata da reunião de março do Copom, quando o texto atribuiu "elevada probabilidade" de Selic em "patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos". A menor taxa histórica foi de 8,75% ao ano, entre julho de 2009 e março de 2010 (no auge da crise global).
O texto do BC cita que a inflação não preocupa, mas, após os cortes nos últimos oito meses e as várias medidas de incentivo ao crédito e consumo, o ritmo da economia será maior a partir do segundo semestre, o que deve acelerar os preços. Para o mercado, ainda que os índices atuais estejam comportados, os preços subirão mais em 2013, o que pode ser preocupante para o BC.
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