Discurso do governo federal de que as hidrelétricas na Amazônia geram energia limpa é combatido por movimentos sociais, cientistas, povos indígenas e Ministério Público Federal |
Marcha Global da Cúpula dos Povos parou centro do Rio de Janeiro |
Enquanto organizações ligadas a movimentos sociais protestavam
contra os impactos nos rios amazônicos causados por barragens de
hidrelétricas, a presidente Dilma Rousseff disse em seu discurso de
abertura da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, nesta quarta-feira (20) que seu governo “defende
os rios” e produz energia limpa com as hidrelétricas na Amazônia.
A
lista dos deveres de casa, muitos deles já bastante questionados pelos
movimentos sociais, sobretudo os do Norte, fizeram parte de seu bem
elaborado discurso da plateia da Rio+20, no Rio Centro, no Rio de
Janeiro.
No
mesmo momento em que Dilma fazia o discurso, aproximadamente 80 mil
pessoas participaram do maior protesto desde que a Rio+20 começou, na
semana passada. O protesto tinha diferentes direções: Código Florestal,
impactos no meio ambiente, desmatamento, desrespeito contra os povos
indígenas, ausência de uma participação maior nos debates oficiais da
Rio+20, entre outros.
Esforço
Dilma,
aparentemente, ignorou as inúmeras críticas que já estão sendo feitas
ao conteúdo do texto final, e defendeu o resultado. Disse que ele
representa o consenso entre os países.
“Foi
um esforço de reconciliação para avançarmos em direção ao futuro que
queremos, de não retroceder nos compromissos que assumimos. Mas não
basta manter as conquistas do passado, temos que evoluir. O texto traz
avanços importantes, estamos introduzindo o objetivo de erradicar a
pobreza como o maior objetivo, e também a igualdade racial, os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável e a criação de um fórum de alto nível
para acompanhar a implementação das ações decididas aqui", declarou.
Futuro
Pela
manhã, a manifestação dos representantes dos grupos majoritários
formados pela ONU, nos quais participaram representantes da sociedade
civil de todo o mundo, já haviam manifestado oposição ao resultado do
documento.
Os
representantes de cada grupo – entre eles mulheres, povos indígenas,
terceiro setor e juventude - criticaram o "retrocesso" apresentado no
texto.
O
descrédito foi exposto de forma explícita nos discursos dos
representantes de cada grupo. "Este não é o futuro que queremos. Não é
disto que estamos falando. As vozes dos herdeiros do futuro precisam ser
ouvidas", disse a representante da juventude.
A
representante das mulheres criticou a retirada da expressão "direitos
reprodutivos" do conteúdo do documento. A exclusão ocorreu devido à
pressão de representantes de países extremamente religiosos e pelo
Vaticano que, mesmo sem voz, participou como ouvinte.
"Há muitos compromissos fortes e ousados pelos quais as mulheres vêm lutando. Pena que o texto aqui produzido seja tímido. Não há compromissos quanto a nossos direitos reprodutivos. Não há ação para proteger nossas vidas. Nada relacionado a mulheres em posição de liderança. O texto não nos dá os meios necessários para lidar com os desafios dos nossos tempos", disse a representante das mulheres, uma egípcia considera uma liderança em seu país.
"Há muitos compromissos fortes e ousados pelos quais as mulheres vêm lutando. Pena que o texto aqui produzido seja tímido. Não há compromissos quanto a nossos direitos reprodutivos. Não há ação para proteger nossas vidas. Nada relacionado a mulheres em posição de liderança. O texto não nos dá os meios necessários para lidar com os desafios dos nossos tempos", disse a representante das mulheres, uma egípcia considera uma liderança em seu país.
A
representação do terceiro seto foi mais dura. Pediu a remoção da
participação da sociedade civil do documento final caso ela permaneça
com o conteúdo atual. "Não concordamos como ficou. Será lamentável que
os senhores venham aqui simplesmente assinar um documento", disse o
representante, referindo-se aos chefes de Estado presentes na plateia.
Descrédito
O
documento que será analisado pelos presidentes e chefes de Estado na
Rio+20 já vem sendo desacreditado há alguns dias por representantes da
sociedade civil mesmo antes da sua elaboração. Especialistas afirmam que
o conteúdo é vago e não deixa regras claras que procura conciliar
desenvolvimento econômico com desenvolvimento sustentável e proteção do
meio ambiente.
Nesta
terça-feira, os representantes dos grupos majoritários (grupo criado
pelas Nações Unidas para representar a sociedade civil) divulgou um
documento oficial com seu posicionamento. Ele pode ser lido neste site: http://www.onu.org.br/rio20/major-groups-da-rio20-declaracao-conjunta/.
Yanomami
A
presença de um grupo de 42 indígenas de Roraima que transitava nos
corredores com trajes característicos do Rio Centro chamou atenção dos
participantes da Rio+20 nesta quarta-feira. O grupo conseguiu fazer o
credenciamento no mesmo momento que chegou ao local, mas houve uma
tentativa dos seguranças de impedir sua entrada. O incidente foi logo
contornado por uma funcionária da coordenação da Rio+20.
“Eles
pensavam que a gente tivesse vindo aqui para fazer barulho, agitar. Mas
não. A gente quer conhecer as pessoas, saber as informações. Muitas
vezes a gente sabe das coisas por outas pessoas, que nos repassam. Agora
a gente quer saber por nós mesmos”, disse MárcioNicássio, presidente do
Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Após
circularam pelos corredores, os indígenas foram recebidos pelo grupo
que representa os povos nativos dentro das discussões da conferência. O
indígena do Acre Sebastião Manchinery fez a tradução durante as
negociações.Manchinery pertence a etnia do mesmo nome e mora em uma
aldeia no Acre. Ele vem participando dos debates paralelos da agenda
oficial da Rio+20.
Após
conversa com líderes indígenas de outros país, definiu-se que os
indígenas de Roraima participem de uma reunião nesta quinta-feira, mas
apenas com espaço dado a alguns representantes.
“Viemos
aqui para acompanhar o que os não-indígenas e o pessoal de outros
países estão discutindo sobre desenvolvimento, economia verde,
sustentabilidade. Queremos saber qual a proposta deles”, disse Dário
Kopenawa, da etnia yanomami, um dos integrantes do grupo. Ele disse que
o grupo foi ao local para “acompanhar o que os presentes vão falar”,
durante as conferências. Dário é filho de Davi Kopenawa, uma das maiores
lideranças indígenas do Brasil.
Três
perguntas para Ailton Krenak – presidente da Rede Povos da Floresta
(pode ser guardada) - tem foto dele, é o que estás vestido com aquele
traje bonito, típi de índios do Acre.
Pergunta - Que resultado você espera da agenda oficial da Rio+20?
Resposta
- Deveria ser um resultado que foi tirado de todas as oficinas e
mobilizações que fizemos no último ano e meio. Discutimos decisão e
acordos e novos apoios e instrumentos. O Instituto Brasileiro Indigena
de Propriedade Intelectual (Imprap) articulou uma série de debates.
Pergunta - Essa proposta ainda será apresentada?
Resposta
- A nossa ideia é levar para o documento oficial um conjunto de temas
que nós acordamos. Tem gente do nosso grupo que está inscrita.
Pergunta - Você também está descrente com o resultado?
Resposta
- Tenho um otimismo crítico em relação a tudo. Mas eu não estão achando
que a conferência vai gerar grandes compromissos. A nossa mobilização
não deve ficar pontual na Rio+20. Vamos continuar mobilizados. As
grandes corporações não querem essa reciclagem capitalista.
UOL
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